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O que está escrito em colorido roxo, foi por conta e sugestão do Paulo Augusto Lacaz

 

Caderno de Instrução

 

DESENVOLVIMENTO

DO SENTIMENTO ALTRUÍSTA E DO CARÁTER MILITAR

NO CADETE

 

Estudo dos valores e atributos importantes

para os militares do Exército Brasileiro

 

 

AMAN – CC

Seção de Liderança e Apoio à Doutrina

 

 

 

 

APRESENTAÇÃO

 

Este caderno de instrução foi elaborado devido às observações levadas à Seção de Liderança e Apoio à Doutrina (SLAD) pelo Sr Cel Tércio de Castro Rocha, professor de Filosofia e Coordenador Pedagógico do 3º Ano. O referido professor notou a dificuldade dos capitães comandantes de subunidade para obterem fontes de consulta onde pudessem colher informações que lhes permitissem orientar seus cadetes, a respeito dos valores e atributos mais importantes para os militares do Exército Brasileiro.

 

Buscou-se, então, organizar um Caderno de Instrução (CI) que facilitasse, bem como padronizasse na medida do possível, este difícil trabalho empreendido pelos capitães.

 

Trata-se de um documento aberto à colaboração de todos os oficiais da AMAN. Portanto, aqueles que tiverem contribuições a fazer, devem encaminhá-las à SLAD, para serem estudadas e inseridas no corpo do documento, se for o caso.

 

Trabalharam na organização deste CI os seguintes oficiais da AMAN:

- Cel Hecksher (SLAD);

- 1º Ten Grassi (Cadeira de Filosofia); e

- 1º Ten Patrícia Barros (Cadeira de Comando, Chefia e Liderança).

 

Despacho do Comandante da AMAN

 

Este CI deverá ser utilizado pelos Cap Cmt de SU e pelos demais oficiais da AMAN sempre que forem orientar seus cadetes a respeito dos valores militares e atributos importantes para os militares do Exército Brasileiro.

 

                                             _____________________________

                                              Gen Bda Marco Antônio de Farias

                                                             Cmt da AMAN

 

 

 

O DESENVOLVIMENTO DO SENTIMENTO ALTRUÍSTA E DO CARÁTER MILITAR NO CADETE

 

- ORIENTAÇÃO AOS OFICIAIS -

 

 

1. OBJETIVO

 

Os capitães comandantes das Subunidades dos diversos Cursos que integram o Corpo de Cadetes são os maiores responsáveis por desenvolver em seus comandados determinados valores considerados importantes para o Exército Brasileiro, bem como certos atributos que lhes facilitem o estabelecimento de laços de liderança com os subordinados quando forem oficiais. São eles, portanto, os que mais atuam no desenvolvimento do caráter militar nos cadetes, amalgamando mentalidade e valores castrenses (da Classe Militar).

 

O presente documento tem por objetivo orientar tais oficiais de modo que esta tarefa seja executada de maneira homogênea, em todo o Corpo de Cadetes, mas servirá também, para que os demais oficiais da Academia identifiquem os valores e atributos dos quais devem ser exemplos permanentes.

 

2. UM BREVE ESTUDO DA PERSONALIDADE

 

É importante saber que a personalidade representa a noção de unidade interativa de um ser humano, incluindo o conjunto de suas características (atributos) diferenciais permanentes e suas modalidades específicas de comportamento.

 

Segundo Sheldon “a personalidade é a organização dinâmica dos aspectos cognitivos, afetivos, fisiológicos e morfológicos do indivíduo”.

 

A personalidade pode, então, ser definida como o conjunto de qualidades psíquicas e morais do indivíduo, isto é, a soma total de seus conhecimentos, capacidades, propensões, hábitos e reações afetivas, que se exteriorizam por intermédio de sua conduta no meio social.

 

Entretanto, a personalidade do indivíduo deve ser estudada, também, em relação às influências ambientais (condições econômicas, fatores culturais, meio físico e social). A personalidade é o resultado de todas as influências ambientais sobre o indivíduo e a sua resposta conseqüente. Nela estão não somente as bases físicas e biológicas da individualidade, como as múltiplas influências econômicas, sociais e culturais.

 

Kurt Schneider define personalidade de uma pessoa como “o conjunto dos sentimentos, valorizações, tendências e volições”. Exclui deste conceito a inteligência com suas faculdades de juízo, lógica, memória e os sentimentos e tendências corporais ou vitais. No entanto, tem grande significação o jogo recíproco e íntimo destas partes da individualidade humana, pois a inteligência é a condição de desenvolvimento da personalidade.

 

Jaspers define-a como “a maneira particular como um indivíduo manifesta as tendências e sentimentos, a forma como é impressionado e como reage às situações com que se depara”.

 

            Augusto Comte, ao definir o neologismo Altruísmo, para explicar a afeição social, o sentimento que leva o animal a agir em favor de outro, que é o oposto ao egoísmo; é o sentimento social, o amor, o instinto simpático, a veneração, a bondade,  oposto às tendências da personalidade, isto é, da individualidade.  É a origem da coesão social, em duas formas, a solidariedade no espaço do grupo em cada época, e a continuidade no tempo, promovendo a convergência no Ser Coletivo nas diversas gerações. POLITIQUE, I, 679, assim podemos definir que : a personalidade, é formada pelo conjuntos dos sete sentimentos egoístas ( nutrição, sexo, orgulho, vaidade, destruição, construção e posse)  que  são chamados de instintos sentimentais da personalidade, acrescidos dos instintos do Caráter (coragem, a prudência e a perseverança), para formar a Teoria da Personalidade, que define as funções do trabalho cerebral no indivíduo, para próprio indivíduo. POLITIQUE, I,91; a desintegração da personalidade, gerando a angústia, sentida por filósofos revolucionários, em nossos dias, levam muitas das vezes, alguns  praticarem o suicídio. POLITIQUE,  I,580 .

 

Portanto, no estudo da personalidade devem ser considerados dois aspectos:

- O hereditário (temperamental); e

                    - O psicossocial / ambiental (caractereológico).

 

 

A base hereditária da personalidade se expressa através do temperamento (?).

 

O caráter, por sua vez, representa a face ambiental da personalidade (?).

 

Não é tarefa simples obter mudanças na personalidade de uma pessoa, pois praticamente só se pode atuar sobre o caráter, a sua face ambiental.

 

Na educação dos Sentimentos, devemos procurar dar exemplos, e treiná-los para subordinar os sentimentos egoístas aos sentimentos Altruístas. Ao mesmo tempo comprimir os sentimentos egoístas e expandir os sentimentos Altruístas ( Veneração, Apego e Bondade). Isto é, subordinar a Personalidade à Sociabilidade. Não é eliminar a personalidade, é controlá-la.

 

Na AMAN, devido à idade dos integrantes do corpo discente e ao dilatado tempo que permanecem na escola, voluntariamente, em regime de internato, é possível obter-se modificações no caráter, ainda em formação, de nossos cadetes; e separar aqueles que possuem sentimentos fortes egoístas, dos Altruístas; afim de miscigená-los se possível, em grupos onde predominem os Altruístas, para forçar os egoístas a conhecerem um outro modo de sentir, e submeterem-se forçosamente a respeitarem os Altruístas. O que se deseja é desenvolver neles um caráter compatível com as exigências da cidadania e das necessidades da vida militar, particularmente aquelas impostas pelas situações de combate, dando-lhes, também, instrumentos para que possam comandar os futuros subordinados liderando-os; com Justiça, Energia, Altruísmo e Mérito (a capacidade, a competência e a situação hierárquica) .

 

Por isto, é preciso que o cadete seja convencido à acreditar firmemente na necessidade de cultivar determinados valores, e que em sua personalidade e sociabilidade, sejam desenvolvidas certas características ou atributos que facilitarão seu desempenho como comandante, para cumprir adequadamente os seus DEVERES.    

 

3. O QUE SÃO VALORES ou PRECONCEITOS ?

 

No livro intitulado LIDERANÇA, editado em 1990, o conhecido John Gardner diz o seguinte:

 

“Em qualquer comunidade, sadia e razoavelmente coesa, as pessoas adquirem pontos de vista comuns a respeito do certo e do errado, do melhor e do pior, na conduta pessoal, no governo, na arte, no que for.

Definem para seu tempo e seu lugar, as coisas que são legais ou ilegais, o vício, a virtude, o bom e o mau gosto.

Toda sociedade sadia celebra seus valores e cultua seus heróis. Esses se expressam na arte, na canção, no ritual. São declarados de forma explícita em documentos históricos, em discursos cerimoniais, em livros didáticos. Refletem-se nas histórias contadas em torno da fogueira do acampamento, nas lendas que o pessoal da antiga mantém vivas e nas fábulas contadas às crianças.”

 

Mais adiante prossegue, insistindo no mesmo tema.

 

“Não existe uma sociedade saudável sem a existência de uma estrutura de valores, de normas de conduta, enfim, de uma ordem moral ou preconceitos.

Quando o consenso amplo da sociedade se desintegra, ou perde a força, a sociedade adoece.

Devemos esperar que nossos líderes nos ajudem a manter vivos os valores que não são tão fáceis de se basear nas leis.

A desintegração da estrutura de valores ou dos preconceitos está sempre em processo. É dever do líder lutar para regenerá-la.”

 

Realmente, este famoso estudioso da liderança tem razão no que diz. Hoje, a sociedade em todos os níveis vem sendo sistematicamente afetada pelos agentes da contracultura que violam e desintegram a estrutura de valores vitais que precisam ser preservados.

 

Por uma visão mais científica, podemos dizer que a “opinião formada antes do estudo de qualquer questão: implica numa suposição prévia, numa hipótese, sempre antecedente e necessária a qualquer ação.  Há bons e maus preconceitos, sendo elogiável aquele que estabelece abertura ao questionamento e ao estudo.  Toda hipótese é um preconceito, constituindo o núcleo básico inicial do saber. POLITIQUE,  I,682

 

            Mas cabe alertar, que “sem uma completa emancipação quanto a preconceitos absolutos, torna-se impossível o estudo equilibrado dos diversos sistemas doutrinários,e portanto, da filosofia na modernidade. POLITIQUE, I,46”

 

No caso particular do Exército, há determinados valores que são imprescindíveis para que a instituição possa existir e atuar como força coesa e disciplinada.

 

Portanto, é fundamental que se identifiquem claramente estes valores militares e que eles sejam preservados a partir das escolas de formação de oficiais e sargentos.

 

Mas o que são valores?            

 

Do ponto de vista filosófico o termo valor se refere a uma propriedade das coisas ou do comportamento individual pelo qual é satisfeito um determinado fim, julgado importante por um grupo de pessoas.

 

Vejamos dois exemplos:

 

Primeiro a família, que é considerada um valor na maioria das sociedades, uma vez que dela depende a procriação, o correto desenvolvimento anímico das crianças e, em muitos casos, a defesa e subsistência das mulheres e dos filhos gerados por um casal.

 

Portanto, depende da família a sadia perpetuação da espécie e por este motivo ela é chamada de “celula mater” da sociedade. Por isto mesmo, a garantia da união estável dos casais está prevista em lei, em quase todos os países e na maioria das religiões ou doutrinas.

 

O segundo exemplo é a lealdade, que é uma atitude, ou um comportamento individual importante para a convivência grupal, pois os grupos onde as pessoas não a praticam logo se partem em muitos pedaços, já que a deslealdade provoca rivalidades e profundos ressentimentos que dificilmente podem ser perdoados. Portanto, a lealdade é um valor que deve ser buscado pelos integrantes dos grupos que almejam alcançar a coesão e o espírito de corpo.

 

4. VALORES FUNDAMENTAIS PARA OS MILITARES BRASILEIROS

 

a. Generalidades

 

Muitos valores notáveis poderiam ser citados. Entretanto, dentro de uma extensa relação, procurou-se selecionar os mais importantes para o grande grupo constituído pelos militares do Exército Brasileiro.

 

O difícil trabalho de convencer os cadetes da importância para o Exército dos valores aqui apresentados só poderá ser feito por oficiais líderes que, devido a esta liderança, gozem da confiança de seus jovens comandados e da credibilidade que esta confiança produz. O oficial líder terá, por isto mesmo, aberto boas vias de comunicação entre ele e os seus cadetes e poderá, através delas, fazer circular as suas mensagens e os seus bons exemplos, moldando, com paciência, as personalidades dos liderados para o bem. Porém, não é simples convencer uma pessoa a respeito da necessidade de um determinado valor e mais difícil, ainda, é fazer com que aquela pessoa o pratique; e com seriedade de argumentos, baseados na persuasão e conhecimento, com certeza atingiremos o objetivo.

 

A técnica a ser utilizada nesta empreitada é a “técnica da modelagem”(?) descrita no Caderno de Instrução do Projeto Liderança, denominado Orientação aos Oficiais. 

 

Sempre é útil lembrar que estabelecer laços de liderança com os subordinados não ocorre num passe de mágica. É preciso ter grande paciência e muita perseverança e mais ainda, possuir Mérito (Capacidade, Competência, Altruísmo e Posição Hierárquica) , para ser respeitado e Venerado ou Admirado.

 

Para possibilitar um melhor entendimento, os valores estudados serão divididos em dois grupos: valores morais e valores cívico-profissionais.

 

b. Valores morais

 

1) A integridade de caráter ou probidade

 

Com base na Moral Positiva, isto é, nos Sentimentos Altruístas – Viver para Outrém e Viver às Claras, isto é, não mentir; e a integridade de caráter ou probidade identificados como o mais importantes, porque condensam todos os demais. A integridade deve ser entendida como a qualidade daquele a quem nada falta do ponto de vista Moral e sugere a idéia de um Caráter sem falhas; isto é, elevada coragem, grande prudência, e fortíssima perseverança; sem grandes alterações de conduta, lastrado na Moral Positiva – “Viver para Outrém” e apurar o Sentimento de Veneração.

 

Portanto, o militar íntegro ou probo é honrado, honesto, leal, justo, respeitoso, disciplinado.

 

Cada uma das qualidades acima mencionadas é um valor que deve ser apontado ao cadete como importante para o grupo militar ao qual ele almeja pertencer e os oficiais da AMAN devem ser, todos, exemplos vivos destes valores.

 

2) A HONRA - isto é, a boa reputação, devido a  um passado de lealdade.

 

 

A HONRA significa a consciência da própria dignidade, que se expressa através de uma vida íntegra, sendo a pessoa honrada objeto do respeito do grupo ao qual pertence. A Consciência é a mais nobre e mais eficiente das forças morais, decorrente da combinação dos sentimentos com a razão, para corrigir a ação. Tomar consciência é a simbolização a posteriori do resultado desse processo, realizado a nível não consciente.  Como percepção das  sensações interiores  na pessoa, foi tida a consciência como manifestação da divindade ou de poderes ontológicos.  Rousseau a chamou de instinto divino, juiz infalível do bem e do mal, na forma de um ente metafísico POLITIQUE, IV,219,334; A dignidade, por sua vez, é o sentimento de respeito que o indivíduo tem por si mesmo e pelo próximo; mas não é igualdade.

 

A honra pessoal é um valor moral a que todos têm direito até prova em contrário.

 

Quando é afetada pela maledicência, pela calúnia ou por ações imorais praticadas por outrém, exige a punição do ofensor. Mas não se perde a honra só pela maldade alheia. Pode-se perdê-la, também, pela prática de atos desonestos ou quando se perde o respeito pela própria dignidade.

 

 

É fácil entender que comandantes, em qualquer nível, não podem ser homens que tenham a honra abalada. Nesta situação seria muito difícil que conseguissem liderar seus comandados. Por isto, é preciso explicar aos cadetes, que estão sendo preparados para comandar, o que é a honra e qual a importância que ela tem para o comandante.

 

É interessante observar que nos dias atuais raramente se vê um discurso no qual a honra seja mencionada e para muitos ela é identificada como uma tolice, ou um valor fora de moda, que poderia ser esquecido sem maiores conseqüências. Entretanto, os sentimentos de honra e desonra estão vivos em nosso subconsciente e as pessoas mais simples sabem identificar as situações desonrosas e não as admitem para si próprias, porque sentem vergonha, devido possuírem o sentimento de Brio, que foi ensinado e aprendido, na AMAN. O medo de se envergonhar perante o seu pelotão, por ter cometido ato, que desabona  sua conduta moral.

 

Vejamos quatro exemplos de ações que afetam a honra do militar:

 

- A covardia diante do perigo.

- O roubo de bens públicos ou privados.

- A mentira para fugir da responsabilidade por ato praticado.

- A fraude executada para auferir algum tipo de vantagem pessoal.

 

3) A honestidade

 

Honestidade vem do latim (honestitas) e é sinônimo de honradez. Na origem latina, honestidade tinha um sentido amplo e compreendia todas as virtudes, isto é, a qualidade moral que inclina o homem à fazer o bem dos outrosde uma vida pautada segundo a razão natural. Hoje, o vocábulo tem um sentido mais restrito e se refere àquele que não mente, que respeita a palavra dada, que é incapaz de qualquer apropriação indébita em seus negócios ou no exercício de suas responsabilidades públicas ou privadas. Portanto, o indivíduo honesto respeita o direito alheio e não compactua com o roubo, a fraude e a mentira.

 

A verdade, tão cara e necessária aos militares, está implícita na honestidade. O mentiroso é um desonesto, uma pessoa em quem não se pode confiar.

 

A honestidade é um valor e, também, uma virtude moral e cívica, sem a qual é impossível aos países superarem os problemas financeiros, pois se os homens públicos forem desonestos o país pagará um imenso tributo à desonestidade de seus dirigentes. Quando a desonestidade se instala na administração pública nunca há recursos suficientes para programas de desenvolvimento e para a melhoria das condições de vida do povo, porque quantias fabulosas desaparecem pelos canais ocultos dos procedimentos desonestos.

 

Porém, a forma mais nociva de desonestidade é aquela que acaba por se identificar com a “vivacidade” e com a capacidade de “levar vantagem em tudo”.

 

Nestas circunstâncias o cidadão honesto passa a ser considerado um bobo, um simplório que não sabe aproveitar as boas oportunidades.

 

O militar desonesto é figura inadmissível e certamente será rejeitado pelos seus camaradas em todos os escalões, uma vez que o repúdio à desonestidade está profundamente enraizado no subconsciente coletivo dos oficiais e sargentos do Exército Brasileiro. Por isto, o oficial desonesto jamais conseguirá liderar seus subordinados e deve ser punido, com pena de morte, para servir de exemplo aos demais; fuzilado perante  toda a tropa ou regimento, após julgamento, independente do montante dos recursos desviados.

 

Portanto, é fundamental que o nosso Cadete receba, na Academia, constantes lições de honestidade, que lhe serão transmitidas pelo discurso e pelo bom exemplo de seus Oficiais.

 

4) A lealdade

 

A lealdade, que é um valor, quando vista em relação ao grupo, e uma qualidade moral ou atributo, quando relacionada ao indivíduo, determina uma atitude de solidariedade à instituição ou grupo a que se pertence e se manifesta pela verdade no falar, pela sinceridade no agir e pela fidelidade no cumprimento do dever e das responsabilidades assumidas.

 

A lealdade às pessoas deverá existir em função dos valores que as mesmas defendam ou representem e não em função do cargo ou do poder que possam estar investidas.

 

A obrigação da lealdade cessa no momento em que, para mantê-la, tivermos que ofender outros valores morais.

 

Para que a lealdade entre os integrantes de um grupo militar seja mantida alguns pontos devem ser observados.

 

- A lealdade tem que ser recíproca.

 

- Deve-se lealdade ao Exército e à Organização Militar à qual se pertence.

 

- Deve-se lealdade ao comandante, que arca com a responsabilidade funcional de conduzir a Organização Militar.

 

- Deve-se lealdade aos companheiros do mesmo nível.

 

- Deve-se lealdade àqueles que nos foram dados como subordinados.

 

- Não há maneira de exigir que outras pessoas nos sejam leais. A lealdade tem que ser conquistada.

 

É importante explicar ao cadete que não existe coesão em grupos onde impera a deslealdade, pois, nessas condições, não se desenvolve a confiança mútua e o grupo se desagrega quando surgem as primeiras dificuldades.

 

5) Senso de justiça

 

Este valor pode ser definido como o dever moral de dar a cada um o que lhe é devido. É a base insubstituível do relacionamento entre as pessoas e destas com o Estado.

 

Uma das maiores responsabilidades dos educadores é inculcar em seus alunos, pela palavra e pelo exemplo, o senso de justiça, que se traduz numa consciência clara dos próprios direitos e deveres, bem como dos direitos e dos deveres dos outros.

 

Qualquer um, que tenha o privilégio de ocupar um cargo com autoridade sobre outros indivíduos, não pode perder de vista que tem a obrigação moral de dedicar-se à proteção e orientação daqueles que lhe são subordinados. Estes estão sob a responsabilidade do chefe e dependem, quase inteiramente, do seu senso de justiça e de suas decisões. Por isto, devem ser vistos por ele como os mais fracos, que precisam ser protegidos e cuidados.

 

Todos aqueles que têm o encargo de manter a disciplina e o poder de julgar pessoas e aplicar punições devem ser criteriosos no exercício desta prerrogativa, evitando incorrer em erros causados pela precipitação ou pela falta de conhecimento, pois a injustiça praticada contra alguém provoca ferida de lenta cicatrização que dificilmente será esquecida.

 

No campo das injustiças aponta-se, também, o favoritismo, que é uma falta de natureza moral muito grave, à qual os subordinados não perdoam.

No que diz respeito à liderança, pode-se afirmar que a injustiça praticada contra um membro de um grupo solapa e destrói a confiança no líder.

 

É preciso que o comandante atue para evitar a impunidade, pois as pessoas de bem, que agem corretamente, esperam que os maus recebam o merecido castigo e caso isto não aconteça o comandante cairá em descrédito.

Senso de justiça é um valor que deverá ser ensinado ao cadete e que só poderá ser demonstrado por intermédio do bom exemplo dos oficiais professores e instrutores, que deverão cultivar a imparcialidade no tratamento com os seus subordinados.

 

Entretanto, não se pode esquecer que não é injustiça tratar desigualmente os desiguais. Igualdade só de oportunidade. A desigualdade é que traz a união.

 

6) Respeito

 

Este vocábulo é empregado com vários sentidos, entre os quais se destacam:

 

- referência a alguma coisa que se deseja destacar;

- temor ou receio diante de uma pessoa; e

- sentimento de consideração àquelas pessoas ou coisas dignas de veneração e gratidão, como os pais, as pessoas mais velhas, as autoridades responsáveis pelos destinos do país e das instituições, os mestres, as coisas sagradas, a família, as personalidades notáveis e os heróis da História de nossa Pátria, bem como os símbolos que a representam.

 

Neste último sentido implica na idéia de direito ou merecimento por parte de quem é respeitado e de cortesia e acatamento por parte de quem respeita.

 

Nos dias atuais, as elites dirigentes, justamente aquelas que deveriam dar bons exemplos ao povo e principalmente aos jovens, são apanhadas, freqüentemente, em mentiras, roubos e falcatruas de todo tipo. Tais pessoas revelam danosa falta de respeito pelos pobres, pelos doentes, pelos velhos, pelas crianças e pelas instituições que elas deveriam auxiliar e preservar. O efeito destas ações é catastrófico, pois quem não respeita acaba não sendo respeitado, além de dar enorme mau exemplo, que acabará sendo imitado por outros.

 

Para os militares o respeito é um valor fundamental que caminha em três direções principais: o respeito à hierarquia, o respeito às leis e regulamentos e o respeito aos camaradas.

 

O respeito à hierarquia é o primeiro a ser considerado, pois a Constituição Federal, no artigo 142, institui esta hierarquia, juntamente com a disciplina como as bases sobre as quais as Forças Armadas são organizadas. Portanto, para que o Exército, uma das três forças singulares, possa subsistir é preciso que a hierarquia seja respeitada em todos os seus escalões e que as ordens legais dela emanadas sejam rigorosamente executadas. Quando isto não acontece, a disciplina entra em crise e rapidamente a instituição é afetada e perde a capacidade de cumprir suas missões constitucionais. Exatamente por este motivo, não se permite aos militares a sindicalização e a conseqüente instituição de hierarquias paralelas, que irão interferir na cadeia de comando legalmente estabelecida.

 

Por outro lado, urge que os membros dos diversos escalões hierárquicos sejam pessoas íntegras, merecedoras da confiança dos subordinados e da nação brasileira.

 

A segunda direção do respeito refere-se à obrigação que têm todos os militares, principalmente os oficiais e graduados, em conhecer, cumprir e fazer cumprir rigorosamente as leis em vigor, notadamente aquelas referentes às Forças Armadas. Os países onde as leis não são obedecidas acabam por entrar em colapso, com gravíssimos prejuízos de todo tipo para o seu povo.

 

O Exército, já está provado, pode ser o último argumento com o qual o governo conte para restabelecer a ordem em uma situação de crise e, devido a isto, seus integrantes precisam cultuar o respeito às leis.

 

O respeito aos camaradas é outra direção importante deste valor. Faz parte dele a lealdade, já comentada, e a consideração à Família Militar.

 

Chamamos de Família Militar ao grupo constituído pelos soldados de todos os níveis hierárquicos e suas mulheres, filhos, netos e, eventualmente, demais parentes. Em todo o Exército, os bons comandantes procuram integrar esta família, cujos chefes são irmãos de armas, de modo que os seus membros apóiem-se uns aos outros nas dificuldades das doenças e das mudanças, nas situações de nascimento de novos filhos e em outros problemas que possam afetar a vida destas pessoas que, em constantes transferências, vivem a migrar por todas as regiões de nosso grande país.

 

Para que a Família Militar possa existir sadia, é fundamental que os oficiais, principalmente, tenham o máximo de respeito por suas próprias famílias e pelas famílias de seus companheiros e subordinados, agindo com absoluta correção com as mulheres, crianças, idosos e adolescentes, independentemente de atitudes equivocadas que alguma destas pessoas possa assumir.

 

O cadete deve ser muito alertado sobre a necessidade de respeitar a Família Militar, à qual ele, em breve, irá pertencer juntamente com sua esposa e filhos.

 

 

 

7) A disciplina  

 

A disciplina é uma importante virtude moral que traduz a capacidade de proceder, de modo consciente e espontâneo, conforme as normas e as leis estabelecidas.

 

A disciplina não é contrária à liberdade e à iniciativa, como alguns imaginam. É, isto sim, a condição indispensável para uma vida social harmoniosa e a base fundamental para garantir, a todos, o máximo uso de seus direitos, em confronto com os direitos alheios.

 

Observe-se que nas sociedades mais evoluídas e mais ricas as pessoas são disciplinadas, pois a disciplina é o aprendizado da solidariedade e um grupo social tem seus dias contados quando falta a disciplina nas escolas e nos lares, locais onde ela deve ser ensinada. Quando isto começa a ocorrer, logo ela vem a faltar nas instituições públicas e privadas, que não funcionarão a contento.

Nos dias atuais, questiona-se a disciplina em todos os momentos. Há os que pensam que ela é algo inerente apenas aos grupos militares e daí imaginam que não se tem que respeitar as normas legais e os direitos dos semelhantes. Observa-se, em muitos indivíduos, uma atitude de pouco caso ou de inconformidade com qualquer regra ou imposição de caráter disciplinar. Tais pessoas imaginam que podem agir como bem entendam e ao arrepio da lei!

 

A disciplina está vinculada ao conceito de obediência. Em qualquer grupo social, surgirão situações nas quais será preciso obedecer a normas estabelecidas ou ordens emanadas de algum poder legítimo. Estas normas e ordens poderão ser ditadas pelo consenso do grupo, pela decisão da maioria ou simplesmente impostas por alguém investido de autoridade legal para fazê-lo.

 

A disciplina e a obediência, em muitas ocasiões, caminham lado a lado com a lealdade. Num grupo organizado, com uma missão a ser executar, comete-se deslealdade quando se desobedece a ordens legalmente fundamentadas e moralmente justas. Tais ordens, para o bem de todos, devem ser rigorosamente cumpridas, mesmo que não concordemos com elas. Se assim não for, a missão do grupo não será cumprida e a desobediência caracterizará não apenas uma indisciplina, mas, também, uma deslealdade.

 

A indisciplina não assinala somente uma desobediência pessoal, ela qualifica, ainda, a desordem e mostra-se tanto mais grave, quanto mais elevada for a posição hierárquica do indivíduo indisciplinado.

 

Quando um comandante subordinado, transmitindo uma decisão superior, falar – “O chefe quer que façamos...”, ou “O comando deseja que...”, na verdade este comandante estará fugindo à cumplicidade e à responsabilidade com a decisão tomada. Deste modo, enfraquece a ordem que irá emitir aos seus comandados.

 

Sempre que o comandante tiver que dar uma ordem, ela deverá ser proferida como se fosse coisa sua, desde que seja uma ordem legal e moralmente fundamentada.

 

É importante considerar que ser disciplinado não é ficar passivamente calado, evitando responsabilidades, mas é empenhar-se no cumprimento das ordens recebidas, descobrindo, pelo interesse e pela reflexão, a melhor maneira de executar a sua respectiva missão, assumindo, inclusive, os riscos que ela comporta.

 

A discussão com o grupo, a troca de idéias com o chefe, a sugestão de outras linhas de ação e a ponderação feita em termos adequados, são legítimas e devem ser estimuladas, mesmo nas instituições fortemente hierarquizadas. Contudo, rediscutir decisões já tomadas na ausência do comandante é uma conduta nociva e perigosa, pois a nada leva, senão à vacilação no cumprimento de diretrizes e ordens já expedidas.

 

A obediência é conseqüência da disciplina e não deve ser encarada como algo humilhante. Ao contrário, ela é uma virtude moral de alto significado que permite ao indivíduo servir com eficiência ao grupo que integra.

 

A disciplina que se procura inculcar no cadete é a denominada autodisciplina ou disciplina consciente, isto é, aquela que se pratica, não pelo medo de fatores coercitivos, mas devido ao entendimento que se adquire da sua absoluta necessidade. Esta é a verdadeira disciplina.

 

Os comandantes, em todos os níveis, além de serem disciplinados, devem ser disciplinadores, atuando por intermédio de bons exemplos pessoais, da persuasão e da autoridade que estão investidos, exigindo, se necessário, a manutenção de padrões de conduta que permitam o adequado convívio social e o exato cumprimento das ordens e missões recebidas. Isto possibilitará que se desenvolvam no âmbito do grupo a coesão e o espírito de corpo. O comandante indulgente que não impõe a disciplina aos que desobedecem as ordens e transgridem as normas, cria a impunidade, que afeta seriamente o desempenho e a coesão do grupo.

 

A disciplina deve ser detalhadamente explicada ao Cadete porque deve ser exigida dele com exatidão e justiça, ou futuramente ele não a exigirá de seus subordinados.

 

Nunca se pense que a disciplina é um objetivo já conquistado, pois a cada dia ela deve ser rigorosamente mantida em todas as Organizações Militares. Se assim não for feito, estaremos preparando a ruína do Exército.

 

c. Valores cívico-profissionais - .

 

0)     MÉRITO

 

Ser possuidor de elevado Mérito Militar, isto é, ser Venerado por possuir  Capacidade, Competência, Altruísmo e Posição Hierárquica, para saber transmitir  e fazer cumprir, por persuasão e conhecimento, os Seus Comandos. Transferindo aos subordinados, a segurança, para que estes enxerguem, subjetivamente, o ganho das batalhas, que vão ocorrer.

 

 

1) Patriotismo

 

A Pátria é o país em que nascemos, isto é, ao qual estamos presos por profundas raízes pessoais e familiares. A idéia de Pátria carrega um forte potencial emocional porque enfatiza a continuidade histórica de um povo, isto é, a sucessão de gerações que construíram, com sacrifício, o patrimônio comum do território conquistado, das riquezas, das idéias, dos símbolos, da miscigenação das raças, da linguagem e dos valores culturais. Implica, ainda, no entendimento que este patrimônio herdado dos antepassados deve ser transmitido aos filhos, aos netos e bisnetos, numa infindável sucessão de gerações. A pátria é um valor fundamental que só se aprecia devidamente quando dele se é privado.

 

Nas palavras de Rui Barbosa: “A Pátria não é ninguém, são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à idéia, à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem um monopólio, nem uma forma de governo: é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. Os que a servem são os não invejam, os que não conspiram, os que não sublevam, os que não desalentam, os que não emudecem, os que não se acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam, mas pacificam, mas discutem, mas praticam a justiça, a admiração, o entusiasmo. Porque todos os sentimentos grandes são benignos e residem originariamente no amor.”

 

O patriotismo é o sentimento de amor incondicional à Pátria. Trata-se de um sentimento complexo no qual podem ser identificadas quatro características:

 

- O desinteresse, isto é, o patriotismo não visa vantagem pessoal, mas, ao contrário, é capaz de sacrifícios, mesmo da própria vida. Toda Pátria constituiu-se devido ao holocausto de inúmeros cidadãos anônimos que, na paz e na guerra alicerçaram a sua grandeza com o seu suor e seu sangue.

 

- A realidade, isto é, o amor patriótico é dedicado à Pátria real, com seus aspectos positivos e negativos, sem a necessidade de criar uma imagem fantástica que na verdade não existe.

 

- A permanência, isto é, a fidelidade constante, sem desânimo, tanto nas horas de glória, quanto nas de humilhação.

 

- O amor sem invejas, nem rivalidades, isto é, o patriota sabe que existem outras pátrias maiores, mais ricas e mais poderosas, mas isto não lhe desperta inveja ou ressentimento, mas apenas o estimula a trabalhar mais para a grandeza da sua Pátria.

 

O patriotismo se distingue do nacionalismo principalmente pelas duas últimas características. O nacionalismo é uma espécie de estado febril ou paranóico do patriotismo, que pode ser identificado em determinados períodos da história de um povo, principalmente por ocasião de lutas pela emancipação política ou econômica,

 

O nacionalismo geralmente contém um viés de exagero e xenofobia (aversão aos estrangeiros); que normalmente levam a Guerra.

 

O verdadeiro patriotismo não pode se reduzir a simples sentimentalismo. Mais do que isto, ele se expressa através da atuação consciente e ativa do cidadão no cumprimento dos seus DEVERES, do seu esforço em contribuir para o progresso e engrandecimento de sua Pátria e da solidariedade com os compatriotas.

 

O militar, que empenha em juramento o sacrifício da própria vida em defesa da Pátria, não pode deixar de ser um patriota, senão irá faltar ao compromisso prestado diante da Bandeira e se tornará um indivíduo sem honra.

 

O patriotismo precisa ser ensinado aos cadetes. Para isto, os professores e instrutores da AMAN devem fornecer-lhes constantes exemplos das potencialidades e capacidades do Brasil, buscando na Geografia e na História os elementos, os fatos e os heróis fundamentais para estimular os cadetes e convencê-los que a sua Pátria é uma grande Pátria.

 

Este trabalho é indispensável, porque patriotismo é amor e ninguém ama o que não conhece; o Patriotismo se forma porque, parte da alma de cada um, forma a alma do Todo.

 

2) O espírito de corpo

 

Espírito vem do latim, spiritus, cuja tradução é alma. O espírito de corpo é a alma coletiva dos integrantes de um determinado corpo de tropa; é o sentimento de sadia camaradagem e solidariedade que se forma entre os membros de um grupo de militares que já executou ou vem executando difíceis tarefas com empenho, ou consolidou objetivos cujas conquistas exigiram penosos sacrifícios.

Pela solidariedade, camaradagem e contínua cooperação entre seus integrantes a tropa torna-se capaz de cumprir as missões mais difíceis e, por isto, adquire a consciência de seu valor e de sua importância perante a instituição a que pertence. Este é o verdadeiro sentido do espírito de corpo.

 

O espírito de corpo não abriga interesses mesquinhos, como a aquisição de benefícios materiais para os membros do grupo, principalmente prejudicando outras pessoas.

 

Em uma organização militar que tem espírito de corpo, se um de seus integrantes recebe uma recompensa, todos os demais se orgulham e sentem-se igualmente premiados.

 

No tempo de paz, o espírito de corpo pode ser desenvolvido por intermédio de competições esportivas e de árduos exercícios de campanha. Outros fatores que auxiliam tal desenvolvimento são os distintivos e os brados de guerra. { E também participarem em 10% do Congresso, por eleição cooperativista, sem pertencerem a nenhum partido, para definirem a  conduta e o rumo, dos planos de desenvolvimento, da Nação Brasileira; emanando a Moral Positiva ao Sistema da Política; quando da implantação do Regimen Societocrático. Participando também da Câmara de Orçamento e Gerenciamento} (No Futuro – deve ser retirado agora esta parte em verde do texto – é só um lembrete)

 

Deve ser ensinado ao cadete que é dever dos comandantes, em todos os níveis, desenvolver o espírito de corpo das tropas que comandam. 

 

3) A camaradagem

 

A camaradagem é um valor caracterizado pelo relacionamento amistoso e cooperativo que se estabelece entre os oficiais, sargentos, cabos e soldados de uma determinada organização militar.

 

Os bons camaradas respeitam-se mutuamente e ajudam uns aos outros, principalmente nas situações de dificuldade.

 

A camaradagem forma sólida argamassa com a lealdade e a disciplina, gerando o espírito de corpo. Sozinha, a camaradagem não pode existir. Se, por exemplo, uma companhia de fuzileiros não for disciplinada, nela não haverá camaradagem, mas sim promiscuidade entre oficiais e praças. Num grupo de militares onde não se pratique a lealdade com os companheiros, igualmente não existirá a camaradagem, mas se instalará um clima de discórdia e ressentimentos.

 

É fundamental entender que a camaradagem não é a tolerância com as faltas dos companheiros, ou a relação que se estabelece entre pessoas que freqüentam a noite praticando bebedeiras e outros vícios, como alguém poderia pensar. Este é um falso entendimento da camaradagem que deve ser bem esclarecido para o cadete.

 

Na AMAN, é fundamental que se explique e se mostre ao corpo discente a importância da camaradagem. Portanto, é preciso que o cadete veja seus oficiais agindo como bons camaradas.

 

 

            Mas a camaradagem, não permite encobertar a falta grave do companheiro ou dos companheiros, que tem que vir acompanhada de provas substanciais, para evitar injúrias.

 

5. ATRIBUTOS IMPORTANTES QUE DEVEM SER DESENVOLVIDOS NO CADETE

 

a. Generalidades

 

Inicialmente é preciso explicar que, em 12 de maio de 1998, o Chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP), através da Portaria nº 12, aprovou a conceituação dos atributos da área afetiva, para uso pelos Órgãos e Estabelecimentos de Ensino subordinados, coordenados ou vinculados a este Departamento. Esta conceituação possibilita uma uniformização do entendimento do significado do atributo, contudo, não fecha as portas ao acréscimo de novas idéias que, não sendo conflitantes com a conceituação original, possibilitem uma melhor compreensão do atributo considerado.

 

Voltando ao item 2 deste documento (UM BREVE ESTUDO DA PERSONALIDADE) e analisando as definições de Sheldon, Kurt Schneider ,Jasper e Augusto Comte, vemos que a personalidade representa a noção de unidade interativa de um ser humano, incluindo o conjunto de suas características ou atributos diferenciais permanentes e suas modalidades específicas de comportamento.

 

Portanto, após algum tempo de convívio com um grupo de pessoas, é possível inferir em cada uma delas a evidência ou a falta de um ou mais atributos. Logo se verá a que tem iniciativa, qual é a corajosa, a que possui equilíbrio emocional e assim por diante. Tais atributos fazem parte da personalidade daquelas pessoas e diante de determinadas circunstâncias elas costumam agir evidenciando aquelas características.

 

Na AMAN, procura-se desenvolver no cadete diversos atributos da área afetiva identificados como importantes para o líder militar. Estes atributos integrarão a capacidade de liderança dos futuros oficiais. Daí, surge a pergunta:

 

- É possível fazer este trabalho? Não há dúvida.

 

Estudos realizados por oficiais da antiga Seção Psicotécnica, atual Seção Psicopedagógica, concluíram que sim. Tal conclusão veio reforçar as observações feitas durante décadas por oficiais professores e instrutores, que sempre destacaram a enorme diferença existente entre o desempenho de um cadete no 4º Ano, quando comparado ao desempenho deste mesmo cadete ainda no 1º Ano.

 

O modo como o corpo docente deve atuar para obter esta transformação está explicado no caderno de instrução denominado Projeto Liderança – Orientação aos Oficiais.

 

Outra dúvida comum é quanto à diferença existente entre valor moral e atributo da área afetiva. 

 

Como já foi explicado, há determinados valores que se referem ao comportamento individual. Estes valores, quando interiorizados, tornam-se características que passam a fazer parte do caráter da pessoa.

 

A lealdade, por exemplo, é um valor moral importante para os militares em geral, mas pode se tornar uma característica ou atributo de um indivíduo pertencente ao grupo militar quando passa a fazer parte do seu caráter.

 

Entretanto, existem atributos que não são derivados dos valores morais por nós identificados, mas que, também, são fundamentais para que um comandante possa estabelecer laços de liderança com os seus subordinados.

 

Abaixo serão mostrados os atributos derivados dos valores morais já identificados e outros tantos vistos como fundamentais porque favorecem um relacionamento adequada com os subordinados e a obtenção da liderança em situações de paz ou em combate.

 

As definições dos atributos foram pensadas em função da liderança a ser exercida por um comandante, em qualquer nível, no âmbito de um grupo militar.     

 

b. Atributos da área afetiva e suas respectivas definições

 

1) Atributos derivados de valores identificados como importantes para os militares do Exército Brasileiro

 

Disciplina consciente ou autodisciplina – capacidade de proceder, voluntariamente, conforme as ordens, normas, regulamentos e leis que regem a Instituição e o Estado, bem como a capacidade de obedecer às ordens legais expedidas pelos superiores hierárquicos, mesmo que não se concorde com elas.

 

Honestidade – conduta que se caracteriza pelo respeito ao direito alheio e pela repulsa ao roubo, à fraude e à mentira.

 

Honra – é a consciência da própria dignidade, expressa em uma vida honesta que torna a pessoa respeitada e acatada pelo grupo ou comunidade em que vive.

 

Lealdade – é a atitude de fidelidade a pessoas, grupos e instituições, em função dos ideais e valores que defendem e representam.

 

Senso de justiça – é a consciência clara dos próprios direitos e deveres e do respeito que se deve ter pelos direitos das outras pessoas. Justiça é o dever moral de dar a cada um o que lhe é devido.

 

Respeito – capacidade de acatar ou considerar a pátria e seus símbolos, as leis e os regulamentos, as autoridades legalmente constituídas, os superiores hierárquicos, os companheiros de farda e suas famílias (Família Militar), bem como as demais pessoas do povo, sem levar em conta sua origem social, raça ou religião. 

 

Integridade moral – característica do indivíduo que desenvolveu uma personalidade integrada pelos seis atributos acima citados. Portanto, o indivíduo que tem integridade moral é, também, honesto, honrado, justo, leal, respeitoso e disciplinado.  

 

Patriotismo – atitude de amor incondicional à Pátria, que se expressa através do respeito às instituições e símbolos nacionais, da atuação consciente e ativa do indivíduo no cumprimento dos seus deveres, do esforço em contribuir para o progresso e engrandecimento da Pátria e da solidariedade demonstrada com os compatriotas.

 

Camaradagem – capacidade de se relacionar de forma disciplinada, amistosa e cooperativa com os superiores hierárquicos, companheiros do mesmo nível e subordinados.

 

2) Atributos importantes do oficial para orientar e corrigir os subordinados

 

Firmeza ou firme autoridade – capacidade de manter, com sólida argumentação, suas opiniões, resoluções e decisões diante de idéias contrárias e de ponderações descabidas. Refere-se à maneira sem prepotência, porém enérgica, com que o indivíduo emprega a autoridade da qual está investido.

 

Compreensão – capacidade de entender idéias, atitudes e comportamentos dos seus subordinados, considerando a idade, a experiência de vida e a origem social de cada um, para melhor orientá-los ou julgá-los. Sinônimo de empatia. 

 

Paciência – capacidade de perseverar na continuação de uma tarefa lenta e difícil, bem como a capacidade de retornar muitas vezes ao mesmo assunto, voltando a explicá-lo aos subordinados a fim de convencê-los.

 

Tato – capacidade de lidar com as pessoas sem ferir suscetibilidades; capacidade de corrigir um indivíduo sem ofendê-lo.

 

Sereno rigor – procedimento que se caracteriza pela capacidade de empregar simultaneamente os quatro atributos acima citados.

 

3) Atributos que favorecem o estabelecimento de laços de liderança com os subordinados

 

Coerência – capacidade de agir em conformidade com as idéias, valores e normas que prega e exige das demais pessoas.

 

Iniciativa – capacidade para agir de forma adequada e oportuna sem depender de ordens ou decisões superiores, compreendendo que os limites deste atributo estão marcados pelas ordens já expedidas, normas, regulamentos e preceitos legais. Para tomar a iniciativa descumprindo ordens é preciso ter um real motivo de força maior.

 

Decisão – capacidade de escolher, oportunamente, uma alternativa que resolva a questão que se apresenta.

 

Equilíbrio emocional – capacidade de controlar as próprias reações para continuar a agir de modo apropriado diante de situações de crise, de conflito e de perigo.

 

Persistência – capacidade de manter-se em ação continuadamente, a fim de executar uma tarefa difícil e mesmo penosa, até terminá-la.

 

Entusiasmo profissional – capacidade de manter-se motivado para a realização dos trabalhos e projetos do grupo a que pertence.

 

Cooperação – capacidade de contribuir, espontaneamente, para o trabalho de alguém ou do grupo.

 

Criatividade – capacidade de produzir novos dados, idéias ou combinações, em busca de soluções eficientes e eficazes para os problemas e situações que se apresentam.

 

Dedicação – capacidade de cumprir, de modo espontâneo e com empenho, as tarefas normais do serviço e outras não previstas.

 

Responsabilidade – capacidade de cumprir suas atribuições, assumindo e enfrentando as conseqüências de suas atitudes e decisões.

 

Coragem – capacidade para agir de forma firme e destemida diante de situações difíceis e perigosas.

 

 

6. PALAVRAS FINAIS

 

Voltando à citação de Gardner, apresentada no início deste estudo:

 

- “Não existe uma sociedade saudável sem a existência de uma estrutura de valores, de normas de conduta, enfim, de uma ordem moral.

Quando o consenso amplo da sociedade se desintegra, ou perde a força, a sociedade adoece.

 

Devemos esperar que nossos líderes nos ajudem a manter vivos os valores que não são tão fáceis de se basear nas leis.

A desintegração da estrutura de valores está sempre em processo. É dever do líder lutar para regenerá-la.”

 

O oficial que serve na Academia Militar das Agulhas Negras, educador e formador dos seus futuros camaradas, deve buscar, permanentemente, estabelecer laços de liderança com os seus cadetes para que possa exercer com eficiência o papel de líder guardião dos valores militares, bem como ser o exemplo vivo dos atributos que se quer desenvolver no Cadete.

Subordinar o Indivíduo à Família

Subordinar a Família à Pátria

                                           Subordinar a Pátria à HUMANIDADE

 

                                                           

BRASIL

  ACIMA DE TUDO,

 Mas sob a

HUMANIDADE.

 

Nota : HUMANIDADE é o conjunto dos Seres Convergentes, do Passado do Futuro e do Presente, que concorreram, concorrerão e concorrem, para a melhoria do Bem Estar Social, do Ser Humano, na Mãe Terra.