Este artigo pertence ao conteúdo do portal Doutrina Positivista

 

A PRODUÇÃO

A cada restrição territorial ( Nação) preservará, a cada Sociocracia, de uma irreal tendência a subsistir por sua própria Indústria, emancipando de toda dependência exterior. A . Comte, Política Positiva, IV, pag.356 ( Globalização Capitalista Democrática, é uma forma inadequada ; onde a ordem é anárquica, e o progresso é retrógrado)

O Desenvolvimento Contínuo da Sociocracia Geral, logo determinará, a verdadeira habilidade, para que cada Nação se especialize nos seus específicos ramos de agricultura ou de fabricação. A . Comte. Política Positiva, IV, pag. 357.

O Trabalho que consiste nos esforços, que fazem os seres sociáveis em beneficio dos demais, se liga diretamente à Produção Social.

Essa Produção pode ser Moral, Intelectual e Material; segundo seja a Natureza do Trabalho.

A Produção Material consiste no serviço que se presta ou na mercadoria ou na obra que se tem feito para a Sociedade.

A Sociedade auxilia diretamente a Produção, permitindo o homem produzir cada vez mais , com os mesmo esforços de Trabalho.

O cultivo da terra, o transporte dos produtos, sua elaboração fabril e sua distribuição comercial, se incrementam sem cessar, tanto por ação das máquinas, como pela influencia da organização industrial.

Assim concluímos que não existe proporcionalidade entre trabalho e produção.

O Trabalho tende sempre a diminuir, e, até, a transformar-se de material em intelectual; em contra partida a Produção aumenta cada vez mais com o Desenvolvimento Social.

Com esta abordagem , é suficiente, para eliminar todo o absurdo direito, que pode invocar o Indivíduo, ao que produz seu trabalho; pois que é a Sociedade, a que Produz mediante as suas máquinas e sua organização; e assim ela permite ao Proletário, trabalhar cada vez menos e produzir cada vez mais.

 

Este aumento incessante da Produção Industrial, tem tornado possível, não só diminuir os esforços de trabalho dos Proletários, bem como eliminar os trabalhos materiais aos velhos, para conservá-los; aos enfermos para cuidá-los; às crianças para educá-las; e as Mulheres e aos homens teóricos (sacerdotes e professores), para destiná-los as funções Morais Positivas e Intelectuais (Cientistas); que lhes correspondem na vida social.

Graças ao incremento do poder produtor do Proletário, tem sido possível desenvolver-se as Ciências ( matemática, astronomia, física, química, biologia, sociologia positiva e a Moral Positiva ) e as Belas Artes ou Artes do Belo ( poesia, música, mímica, escultura, arquitetura ) e Artes do Bom ( medicina , a educação, a sã política e os DEVERES/direitos), para satisfazer as necessidades Intelectuais e Morais do Homem.

O aumento da produção ainda tem permitido aos povos, inutilizar grande quantidades de produtos, para a sua própria necessidade egoísta, que ainda imperam ligados aos seus costumes militares e aristocrático-burgueses,

O desenvolvimento da vida industrial, sem o cultivo dos sentimentos Altruístas, sem a percepção dos DEVERES SOCIAIS, e sem a organização da atividade pacífica, leva toda a sociedade ao desconcerto produzido, devido a luta dos egoísmos; auxiliada pela ignorância científica e a desordem; promovendo assim, uma Ordem Anárquica e um Progresso Retrógrado.

Assim quando os Patronais e os Proletários, desconhecem o princípio elementar de Viver para Outrem; e convertem a Produção em fonte de prazeres individuais, e o Salário ao Preço do Trabalho. ( vide os artigos = O Salário e o Trabalho); Os dois, tanto o Patronal como o Proletário, são desgraçados e miseráveis, em sua riqueza e em sua pobreza.

Estes egoísmos se defende em detalhes com o Sentimento Nacional, o Nacionalismo, com o Amor a Pátria, que se converte em ação de exploração de outros povos. Foi assim, que surgiram os escândalos da política colonial moderna, a monstruosa escravidão da raça negra e a degradação da guerra civilizadora, quando esta se submeteu ao Nacionalismo Industrial e agora se submete a Globalização Capitalista Democrática, orquestrada por uma Nação de Sentimento Altamente Egoísta e de Regimen Imperialista. Nada mudou, apenas a forma – piorou, somos todos escravos - - Leiam o Livro Negro do Comunismo – Editora Biblioteca do Exército e o Livro Negro do Capitalismo – Editora Record – bem como o artigo do autor que vos escreve - A Escravidão Moderna.

Este tipo de comportamento, onde predomina o sentimento egoísta, são os que também provocam as lutas de Classe Sociais.

A inveja do proletariado e o ataque constante ao Patriciado, que o explora; e por sua vez o proletário se agita para explorar a mulher; esposa. Mãe e filha, desconhecendo o dever de alimentá-las.

O Patronal, por sua vez ilude seus trabalhadores, para com o trabalho, invocando os direitos de abuso, converte a fortuna em fonte de prazeres pessoais.

Assim se corrompe e destroi a Produção Social, e se semeia a desgraça e a morte entre os servidores da Humanidade; porque não se tem o sentimento e nem a noção do que é a vida coletiva.

Em meio a esta anarquia em que vivemos, hoje em dia, onde reina na direção industrial, se tem exagerado, de tal modo a produção de inúteis produtos de fantasia, que por ela descuida-se da produção das provisões necessárias, até o ponto de estabelecer aos povos o perigo de morrer de fome.

Caso se deseje justificar as produções inúteis ou supérfluas, com a necessidade de procurar alimento para o povo, quando seria, sem dúvida, mais econômico repartir o alimento e demais provisões, sem exigir nenhum trabalho do proletário; pois desta forma se evitaria a destruição de materiais inúteis, elaborados por nossos contemporâneos e por nossos antecessores.

Os sofismas, isto é, o falso raciocínio maldoso, não resistem ao menor exame.

Enquanto não se venha organizar o Patriciado Industrial, para dirigir toda produção material, em beneficio do povo, somente o Governo Temporal e a Caridade Social podem combater a miséria. E quando o proletário pretende resolver o problema social, sem subordinar-se à Humanidade pelo Amor, a Fé e a Esperança, produz unicamente transtorno, que existam seu próprio egoísmo e o do patronal.

A Produção Industrial permanece agora, em uma completa anarquia, por falta de Guia Intelectual e de Sanção Moral Positiva.

Assim por exemplo, as empresas produtoras agrícolas e fabris, estão destinadas, sem duvida alguma, à abastecer a Sociedade, do que necessita, e por tanto, o fato de que possa ocorrer falta de um certo artigo ou produto; é dizer que a demanda seja maior que a oferta; indicando que estas empresas produtoras, não tem cumprido com suas obrigações; e por isso, é precisamente então, quando elas convertem-se em exploradoras da Sociedade, aproveitando o excesso de demanda, de que são elas mesmas responsáveis, para subir os preços, dos artigos em falta.

O Comércio por sua vez, ocasiona escassez fictícias, abarrotando-se de produtos, com o mesmo objetivo de exploração social.

 

Todos os males desta natureza, que os atuais economistas, explicam descobrindo a causa e os legisladores sancionam em nome do direito, os positivistas tratam de remediá-los mediante o desenvolvimento das idéias e dos pensamentos, das opiniões, e dos costumes que correspondem à vida Altruísta.

Ligado a Humanidade, o proletário trabalha inspirado pelos sentimentos Altruísta, que o impulsionam, a viver para os demais, como Ser Sociável; e tem como alvo a produção de trabalho, como a oferta gratuita que faz em benefício da Sociedade.

Por sua vez o Patronal ao receber esta oferenda de produção, só pode utilizá-la no amparo da Ordem e do Bem Estar Geral.

Quando a Produção Industrial emana do trabalho dos seres que vivem para os demais, ela está destinada à transmitir-se para satisfazer as necessidades sociais.

Disse Augusto Comte :

" Não se produzem tesouros, seja de qualquer espécie, se não com o objetivo de transmiti-los"

Política Positiva, II, pag.157

 

Até a Doutrina Comunista se baseia neste princípio, somente com uma diferença, de que , quem recebe a produção dos trabalhadores é Estado e não o Patronal. É um capitalismo de Estado.

Como a Política Positivista, não aceita o programa comunista, devido a causa do princípio sociológico, que estabelece a necessidade de conciliar a INDEPENDÊNCIA e a CONVERGÊNCIA SOCIAIS.

Se o Estado se converte em depositário da produção e no único protetor dos indivíduos, segundo o modelo da Família e da tribo primitiva; tem que se impor o trabalho obrigatório, combinando-se assim a tirania com a escravidão. Com tal sistema pode obter-se uma ordem social, mais ou menos perfeita, por quanto se produz desta forma, a convergência obrigatória dos indivíduos, mas se anula a fonte de progresso humano, que emana da independência pessoal.

Tal independência é que permite aos indivíduos desenvolver suas faculdades e consagra-se aos ofícios que melhor se adaptem. A Sociedade, longe de restringir essa liberdade, deve favorece-la, procurando, em cada uma, os meios mais eficazes de cultivar e de aplicar suas faculdades morais positivas, intelectuais e práticas.

Por outro lado, o problema da produção industrial e da distribuição e repartição dos produtos, é demasiado complicado, para que possa centralizar-se no Governo do Estado, e exige toda uma hierarquia de agricultores, fabricantes, comerciantes e banqueiros, que devem produzir a convergência, ativa dos indivíduos, dentro e fora de cada Pátria.

Longe de querer destruir esta hierarquia, dos empresários da produção material, a Política Positiva trata de ligá-la, mais e mais, à administração da fortuna, de modo que chegue um dia , em que não exista empresário, que não seja rico, nem rico que não seja empresário.

Para que isto aconteça, é indispensável, que não se trabalhe para se enriquecer, senão para servir a Sociedade; pois assim, a maioria dos empresários, não trabalhariam se fossem ricos, pois os ricos não desejam ser empresários – são os burgueses.

Os membros desta hierarquia patronal, devem estar sempre submetidos às inspirações de suas Mulheres ou de outras Mulheres – Mulheres que tenham os seus sentimentos Altruístas, sejam Inteligentes e Cultas, com noção profunda de Causa Pública; e dos Conselhos Sacerdotais, dos Ministros das Igrejas, que tenham por objetivo, não ter suas ações de forma tirânica, visando a ganância material. Muitas , ou quase todas, hoje em dia, usam Cristo, para ganhar dinheiro e poder político de Estado e enganar os seus rebanhos.

Quando se regulam as forças humanas, dando um mesmo destino à todos os nobres sentimentos, a todas as concepções verdadeiras – científicas – e a todos os atos úteis, fazendo convergir ao conjunto de nossa vida de Amor, ao Conhecimento e ao Serviço da Humanidade, cessará a indigna Luta de Classes, de povos e indivíduos, e não mais se dilapidarão os tesouros materiais em extravagancias sociais, nem individuais, e se dará à Produção Industrial seu verdadeiro destino.

Este destino, é o de generalizar o bem estar material, eliminando por todos os cantos e partes, a miséria, para permitir o desenvolvimento ilimitado das condições Intelectuais e sobretudo Morais Positivas das Sociedades Humanas. Estamos muito longe de atingir, mas a meta é esta.

Este destino Social da Produção Industrial, permitirá regulá-la de forma que não se produza, nada de supérfluo, enquanto não se haja produzido o necessário, PARA SANAR A MISÉRIA, A FOME, AS DOENÇAS, AS GUERRAS .

O objetivo social da produção, moraliza todas as produções agrícolas, fabris, comerciais e bancárias. Eliminando-se então, paulatinamente, as produções agrícolas e fabris nocivas, adulteradas ou de má qualidade. O Comércio abandona os abusos de fraude e de monopólio, e o banco seus procedimentos de ágio de usura.

A Produção Industrial está subordinada às duas seguintes Leis Naturais :

" Cada homem produz mais do que consome; os materiais obtidos podem ser conservados, por mais tempo, do que exige a sua produção" Augusto Comte – Política Positiva, II, pag 150.

Com base na aplicação destas Leis, se chega às acumulações de produtos materiais, que permitem ao homem, viver para os demais, ou seja trabalhar e desenvolver a Produção Intelectual e a Produção Moral.

Com a crescente purificação dos preceitos intelectuais e morais; bem como com o constante desenvolvimento dos métodos e das doutrinas positivas, seriam impossíveis sem o aperfeiçoamento incessante dos Instrumentos e das Provisões materiais, que neutralizam as impulsões egoístas, que nos permitem Viver para os Demais.

A Produção Material se compõe de duas classes de produtos: os Instrumentos e as Provisões.

Os Instrumentos auxiliam a nossa ação sobre o Mundo e as Provisões , satisfazem nossas necessidades físicas.

As Provisões se referem principalmente ao alimento, ao vestuário, ao mobiliário, ao veículo e ao domicílio.

Os Instrumentos de Produção estão constituídos, sobre tudo, pelas Áreas de Cultivo e pelas Máquinas.

Referindo-se a estas últimas Augusto Comte disse :

"Sistematizadas em um Estado Normal, as máquinas e seus complementos, desempenham um trabalho relativo as Artes; um trabalho equivalente aos dos métodos relativos às ciências; sem nada produzir diretamente; as unindo como os outros, para chegarem a ser os principais meios de produção." Política Positiva – Vol. IV – pag 352/353 .

A Produção Material, no Passado, se incrementou graças a atividade conquistadora dos povos que se submeteram os vencidos ou derrotados, ao trabalho de escravo. Ela permaneceu ainda sob servidão, enquanto imperou, a atividade defensiva, própria do Regimen – Católico-Feudal . Somente nos Tempos Modernos, quando a atividade coletiva tendia a se transformar de Militar em Industrial, a Produção se fixou independente e tratou de dominar, determinando e impondo os Mercados de Consumo.

A evolução histórica de nossa atividade, guarda um perfeito paralelo, com o desenvolvimento do nosso Intelecto. A conquista, a Defesa e a Indústria, são no domínio prático, o que a teologia, a metafísica e a ciência, são no domínio teórico; quer dizer três fases sucessivas, dos diversos modos de coordenar as ações e as idéias e os pensamentos humanos.

Mas cabe aqui alertar, não devemos acreditar que o estado científico da intelectualidade, nem o estado industrial da atividade, constituem o estado positivo e final de nossa espécie Homo-sapiens.

É necessário que a produção cientifica e a produção industrial venha se basear em um princípio Moral Positivo, de subordinar o egoísmo ao Altruísmo, tanto na vida teórica, como na vida prática. Só então perderá seu caráter individual e se torne em verdadeiras criações sociais.

Augusto Comte disse a este respeito :

 

" Quando a vida prática se faz universal e perpétua. Ela deve como a existencia teórica, receber do sentimento, sua instituição definitiva; principal objetivo da Religião da Humanidade. Uma degeneraria, em uma vã acumulação de produtos, e a outra, em uma estéril coletâneas de verdades, se todas as duas, fora de suas mútuas relações, não se subordinarem a um único domínio, susceptível de as regular e de as enobrecer. " Augusto Comte , Política Positiva, IV, pag. 324.

Este domínio, é o domínio Moral Positivo, em que imperam e se conciliam o DEVER e a FELICIDADE.

Uma vez que a Produção Material se destina ao serviço da Humanidade, o proletário, não se preocupa em exigir que os demais, trabalhem e produzam, promovendo a idéia de reduzir o numero de seres humanos e também os animais e vegetais que vivem sob sua tutela. Se elimina assim a produção industrial vinda do Sacerdote, da Mulher, a dos Meninos, a dos Velhos e dos Enfermos.

Se o homem ativo – proletário e patronal, cuida por sentimento os animais domésticos e das plantas do seu jardim, por que não pode cuidar do homem?

Convém neste momento, recordar mais uma vez Augusto Comte:

" Seria necessário dar uma importância muito mesquinha à Produção Material, para crer que haja impossibilidade de nela participar meritoriamente, o desprezo ou a opressão " Augusto Comte – Política Positiva, IV pag. 354

O destino que deve ser dado à Produção Industrial, de servir a posteridade, deve ainda referir-se antes de tudo, ao bem estar do proletariado, organizando a agricultura, a fabricação e o comércio, de modo que assegure à todas as Famílias o alimento, o vestuário, o mobiliário e o domicílio.

Mas ante de virmos realizar este grande programa Político, que eliminará a miséria material, é indispensável que o Proletariado elimine a sua Miséria Intelectual e Moral Individual; e venha ser rico de Inteligência e de Sentimento Altruísta.

O Povo trabalhador – proletário e patronais, pode desde logo apreciar o futuro que o espera, enquanto se constitui a Humanidade; seguir sacrificando-se , mas com um intimo contento de que sua abnegação é digna e voluntária; consolo que não tiveram os seus antepassados escravos, ao sacrificarem-se para que os guerreiros organizassem as Pátrias.

Quando a Religião da Humanidade vier comandar os sentimentos, os pensamentos e na conduta dos Homens, todas as produções de utilidades materiais, como as das verdades científicas e das belezas artísticas serão populares.

São as satisfações populares, as que determinaram a arte teocrática, a arte greco-romana, e sobre tudo a arte medieval, cujas catedrais, parecem emanar do coração do povo.

São estas satisfações populares, as que persegue a ciência, enquanto serve a ação do homem e a sua concepção relativa do Universo.

Mas enquanto se esconde do Povo, a Produção Científica, ela se dispersa no individualismo do regimen acadêmico e burguês.

São também as satisfações populares, que também a produção industrial, deve ter em vista, se não desejar cair nas extravagancias da Moda e da falta de caráter da burguesia; e também nas lutas destruidoras da cobiça.

Já é tempo de regulamentar esta desordem em benefício da Humanidade, entre as forças de produção na Arte, na Ciência e na Indústria, que com tanto sacrifício os nossos antepassados vem desenvolvendo.

 

Luis Lagarrigue – Incorporação do Proletariado na Sociedade Moderna 1920 – traduzido e complementado Por P. A . Lacaz 2002.